quinta-feira, 10 de abril de 2014

Casa Maciel

Há, aproximadamente, dois anos, Margarida Pragana deixou a carreira que tinha para se dedicar à 'Casa Maciel', a latoaria da família que abriu portas em 1798. Aos 36 anos, Margarida representa a 7ª geração da família, sendo a única mulher até hoje a tomar as rédeas do negócio. A residente de Lisboa garante que existe uma certa magia na loja que a impede de virar as costas ao negócio e que através das conversas que tem com os clientes e antigos funcionários, conheceu o avô paterno, com quem nunca teve o privilégio de estar. 

Apesar de já ter recebido inúmeras propostas de trabalho, vindas até do estrangeiro e que lhe dariam uma estabilidade económica muito maior, não se arrepende da decisão que tomou: "Nunca me interessei por candeeiros; faziam parte da história da família, mas não lhes ligava nada. Quando comecei a vir para a loja e comecei a ouvir as histórias dos clientes, apaixonei-me pelo legado que o meu pai me deixou. Se fosse pelo dinheiro não estaria aqui, mas agora já não quero sair porque não consigo deixar a 'Casa Maciel'. Os Pragana têm uma certa magia que faz com que aqueles que fiquem à frente da loja não consigam virar as costas ao negócio"

Nas paredes repletas de lanternas estão cravadas histórias que contadas pelos clientes mais fiéis e antigos, como por magia, fizeram com que Margarida conhecesse o avô paterno que faleceu antes dela nascer. "A maior lacuna da minha vida é não ter conhecido o pai do meu pai... Mas ele deixou-me a 'Casa Maciel' e com ela um bocadinho de si. Hoje posso dizer que tenho muitas saudades do meu avô... e nunca o conheci!... E quando tenho aqueles dias menos bons e vou a baixo, peço ao meu avô para me ajudar e a verdade é que sinto que no dia seguinte acordo com outro ânimo"

Quem passa pela 'Casa Maciel' além de ter a oportunidade de contemplar peças cujos moldes datam mais de duzentos anos, pode ainda usufruir da simpatia e boa energia que os Pragana transmitem e que aquece o coração de qualquer um. E, por esse motivo, Margarida confessa o desejo de que o negócio permaneça na família: "Acima de tudo o que me agarra à 'Casa Maciel' são as histórias. Por vezes dou por mim a pensar: Como é possível? A minha ambição era outra... Hoje amo aquilo que faço e quero ficar lá até que as forças me faltem. Não fazia sentido ir outra pessoa para a loja... Eu estava lá como filha e hoje tenho um amor incondicional à 'Casa Maciel' e luto todos os dias para que passe para outra geração. Eu digo sempre que não nascemos todos para ser doutores e que nunca se sabe o que o futuro nos reserva. Mas se tivéssemos de trocar de donos ficaríamos muito tristes. São muitos anos, muitas histórias... Já conheci tantas pessoas que não conhecia mas que fazem parte de mim, da minha história... Como privilegio os valores humanos, considero que a maior crise que estamos a atravessar é a de valores e não a económica. Nunca fui má pessoa, mas desde que estou na 'Casa Maciel' sinto que me tornei uma pessoa mais solidária, mais tolerante..."

Morada: 
'Casa Maciel'
Rua da Misericórdia, 63 - 65,
1200 - 271 Lisboa

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